Eu, mulher negra, RESISTO!
quarta-feira, 30 de julho de 2014
O FEMINISMO É UM SÓ?
Pretas, feminismo é o nome que damos à luta feita por mulheres e para mulheres. Ser feminista é entender que mulheres são tratadas de uma maneira inferior na sociedade, entender que por sermos mulheres nossa opinião não é tão importante, nosso comportamento é controlado e muitos direitos nos são negados e a partir desse entendimento, fazer alguma coisa que possa facilitar o entendimento de outras mulheres sobre nossa condição e construir estratégias pra mudar a situação que o patriarcado nos força a viver.
As estratégias para mudar essa condição são muitas, portanto não há um feminismo, mas várias estratégias que buscam a libertação das mulheres e como são várias estratégias diferentes, existem muitas discordâncias sobre as praticas feministas. Estas modificações e ramificações do feminismo nasceram por vários motivos e muitas vertentes são mais conservadoras e reformistas do que revolucionárias, mas ainda sim, são feministas. O feminismo menos modificado busca cortar os malefícios do patriarcado pela raiz, e entende que pequenas reformas só geram a manutenção das forças que nos oprimem.
Muitas modificações vão acontecendo para tentar abranger um numero maior de mulheres e tentar de alguma forma conscientiza-las e faze-las voltar ás raízes do feminismo, que é a libertação completa de todas as mulheres. Dentro das praticas feministas, existem mulheres que não se identificam com o nome “feminismo”, porque esse nome foi e é muito mal falado, principalmente entre as mulheres mais pobres e negras. Pra nós o feminismo foi e é vendido como “ coisa de quem não tem o que fazer”, mas o que ninguém nos diz é que, pequenos atos que questionam o papel feminino na sociedade, são praticas feministas.
Um grupo de domésticas que se unem para denunciar o tratamento que recebem de seus patrões, muitas vezes denuncias de assédio sexual. È uma pratica feminista. Em casa, quando uma adolescente questiona sobre porque ela tem que lavar a louça enquanto seus irmãos e pai não vão se divertir, é uma pratica feminista mesmo que as mulheres que as façam digam que não tem nada a ver com feminismo. A pratica feminista é muito importante, mais importante que qualquer teoria ,mas as duas coisas aliadas com certeza nos deixam mais fortes porque a teoria nos faz entender que os problemas que sofremos não são nossa culpa e não acontecem só com a gente.
Ler sobre feminismo e libertação das mulheres nos faz entender que o pessoal, é na verdade politico. Lembram de quando encontraram pela primeira um texto que falava sobre negritude? É reconfortante, nos dá forças e ajuda a continuar lutando, a mesma coisa é quando encontramos textos que nos explicam que os problemas que nós mulheres passamos não são culpa nossa. Quanto mais nos aproximamos da teoria feminista, mais percebemos que eles nos machucam, nos excluem e nos dividem porque somos mulheres, e juntas nós somos muito fortes. Desse jeito que escrevi parece até que é uma conspiração né? Parece até loucura, como assim eles nos maltratam só porque somos mulheres? Eles odeiam todas nós?
Infelizmente não é conspiração, assim como o racismo é uma estrutura social, o machismo também é, homens são machistas e não querem pensar sobre isso porque mudar de verdade, inclui perder privilégios sociais, e assim como as pessoas brancas, os homens não querem perder os privilégios masculinos. Por isso nós temos que contar uma com as outras e nos apoiarmos porque o machismo irá ceder pelo trabalho das mulheres, o protagonismo é todo nosso. Nosso papel enquanto feministas, com leitura feminista ou sem leitura nenhuma, deve ser principalmente de entender que mulheres não são machistas, mas sim vitimas do machismo.
Mesmo aquela mulher que faz e fala coisas atrasam nosso lado, mesmo aquela que cria os filhos homens e mulheres de maneiras diferentes. Nenhuma mulher é machista porque machismo é uma relação de poder e quem tem poder social é o homem. Mulheres podem reproduzir o machismo, eu sei que a reprodução do machismo é muito grave e aprisiona muitas mulheres. Mas qual é o certo a ser feito, crucificar essa mulher que também sofre com o machismo, e perder o foco da luta que é o machista, ou continuar praticando o feminismo, que vai fazer com que todas as mulheres avancem, até mesmo essa mulher que reproduz machismo? Eu acredito que manter o foco é o principal, inclusive pra não se cansar porque ninguém é de ferro né? Se existe alguma mulher que esta te deixando deprimida por reproduzir machismo, não se esqueça nunca que ela é uma mulher, e mesmo que ela não reconheça, é prejudicada pelo machismo, ela é uma vitima e não é seu opressor.
Eu acredito que enquanto feministas, nós devemos tentar praticar a união sabe? É muito difícil conseguir se expressar em lugares públicos porque sempre quando tentamos nos pronunciar, alguém dá um jeito de desqualificar nossa posição. As mulheres são ensinadas a se odiarem, somos ensinadas de que mulheres são falsas, fofoqueiras e só querem competir. Nós negras sofremos com isso porque somos mulheres, e além disso, sofremos mais porque o racismo faz com que a gente consiga até nos unir com outras mulheres brancas, mas não conseguimos nos olhar enquanto mulheres negras e baixas as armas.
Nós somos ensinadas a concordar com os opressores, não questionar e nem que seja por medo, somos condicionadas a guardar nossa opinião, então quando conseguimos fazer alguma coisa, falar alguma coisa, é normal surgir um sentimento estranho que faz com que queiramos exigir uma qualidade imensa na fala da outra mulher. Nossa ansiedade em nos sentirmos representadas é tão grande que esperamos que aquela mulher que teve coragem de falar nos representante completamente, e quando isso não acontece nossa primeira vontade é de ignorar ou criticar, mas devemos ter cuidado para não desestimular o trabalho da outra, que esta tentando falar sobre o que sofre.
No nosso caso, a timidez é ainda mais sintomática porque não há lugar nesse mundo onde uma mulher preta se sinta confortável pra falar tudo o que pensam e sentem sem sofrer julgamento. Percebam, discutir, conversar, questionar e discordar de um posicionamento de alguma irmã, é completamente diferente de atacar, julgar, excluir e expor um pensamento ou uma opinião.
Praticar a irmandade como princípio básico do feminismo e ter cuidado sobre como abordamos as pretas é ser combativa contra o racismo e contra o machismo que nos quer divididas. Hoje graças a luta de muitas pretas, mulheres que se definiam feministas ou não, nós temos acesso à várias correntes teóricas, vários textos em português e em outros idioma, uma pluralidade linda de informações que nos permitem escolher o caminho de luta que acreditamos ser o melhor para a libertação das mulheres.
Nosso recorte é pessoal e é politico, com toda essa pluralidade, nem todas as pretas vão pensar do mesmo jeito, nem todas as pretas vão praticar o feminismo do mesmo jeito mas todas as pretas serão julgadas pelo sistema racista e machista porque pra esse sistema, pretas não podem pensar, pretas não podem escolher, pretas não podem. È cansativo lidar com esse sistema, então vamos praticar a irmandade que é tão preta e respeitar os caminhos, porque são muitos.
Um comentário:
Cika Favel
14 de março de 2018 às 08:03
texto maravilhoso. Nossa luta é todo dia. Irmãs pretas estamos juntas!!!
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texto maravilhoso. Nossa luta é todo dia. Irmãs pretas estamos juntas!!!
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