quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Sobre a mão que balança o berço e os racistas que dormem nesse balanço:


segunda-feira, 17 de novembro de 2014

ela/Ela e a outra/Outra - Amanda Oliveira

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Brancos de estimação e o racismo em pele de empatia:

Essa branca é amiga, podem confiar nela, criei com todo carinho lá em casa. 

Ela não morde.


Nós, negras da diáspora, fomos largadas para sobreviver num mundo cheio de contradições e de ódio. Nós somos ensinadas a ter gratidão, empatia e amor pelos nossos opressores. Afinal, se a gente fingir que não vê, ouve ou entende todo o ódio que eles nos lançam, como vamos sobreviver se o mundo é deles? A tática de sobrevivência acaba sendo sofrer quieta, relevar e diminuir a importância do ódio lançado contra nós, e assim vamos vivendo, até o dia em que chega até nós aquela pessoa branca que por algum motivo mágico não nos odeia. A vontade de ter um mundo onde a igualdade racial é a norma, é tão grande que nós acolhemos aquela pessoa branca como se ela fosse da família, ensinamos tudo sobre nós e nossos ancestrais na esperança de que ela vá, e leve pro mundo branco todas estas informações valiosas, e principalmente, que ela vá e ensine os outros brancos que nós somos pessoas tão interessantes quanto eles, tão complexos e tão legais quanto eles.  Esse processo de aproximação para troca de saberes, é com certeza uma maneira muito importante de destruir preconceitos. Eu sinceramente acredito que conhecer para não discriminar é parte de um processo importantíssimo que nos levará á igualdade racial, o problema é quando nós ficamos inebriadas com a esperança de estar plantando uma semente boa pra sociedade, e baixamos a guarda esquecendo que  *o pessoal é politico, e consequentemente deixamos de analisar nossas relações pessoais criando cobras que só estão aguardando a hora certa pra nos picar. 

O branco de estimação aproveita todas as regalias sociais de ser branco, e faz questão de continuar fazendo seu papel de colonizador quando usa uma das armas mais antigas, criadas por ele mesmo pra nos confundir, a mestiçagem. A mestiçagem combinada com um discurso de fluidez de raça, tem tentado com alguns sucessos transformar a negritude num sentimento, e não uma realidade material que elimina pessoas de pele não branca com traços negroides. Mesmo os livros de história mais antigos, mais mal escritos nós podemos ler sobre pessoas brancas se aproximando, se mostrando amistosas e em seguida saqueando tudo o que lhes interessa. Eles se aproximam, fazem seus estudos e em seguida nos abandonam. Eu tenho certeza absoluta que todas nós temos mais de um exemplo sobre essa relação que se torna cada dia mais complexa mas que ainda preserva mecanismo iniciais de conquista e controle étnico. Eu sei que estamos vivendo um momento onde a biologia esta sendo ignorada por convenção de algumas bandeiras, mas nós não podemos cair na armadilha cultural que vincula a negritude somente á vestimentas e outros traços culturais. Nós ainda somos violentadas e mortas por causa do nosso fenótipo, por causa da cor da nossa pele e da textura dos nossos cabelos. Se para uma parcela mínima de pessoas brancas, é possível flutuar para viver, pra nós flutuar é permitir que assinem nossa sentença de morte, outra vez. O professor Kabengele Munanga diz que o racismo no Brasil é uma obra de engenharia, e não é por acaso que essa obra arquitetada a tanto tempo ainda é importante pra manutenção de um mundo de exclusão. Nós não podemos nos perder nos discursos modernos que parecem ser libertadores, esses discursos parecem um sonho onde tem uma pessoa sorridente te estendendo as mãos e dizendo : " vem que será tudo lindo", mas se segurarmos essa mão, vamos retroceder. Nós estamos num momento fértil de conquistas, estamos nos levantando e conseguindo representações onde não conseguíamos desde a década de 70, e estamos avançando em espaços nunca antes habitados por negros, como as universidades e com isso não podemos aderir ao discurso dos opressores. A luta do povo negro tem cor, fenótipo e origem africana, não há como se desprender disso, se alguém com outro fenótipo e cor se sente negro, essa pessoa precisa de um bom psicologo.

Quem são os brancos de estimação? O que comem e onde vivem?


Branco de estimação é aquela pessoa de pele branca que convive com pessoas negras, e foi ensinada sobre tudo do mundo negro. Brancos de estimação podem ser nossos vizinhos, aquela amiga da faculdade ou do trabalho, a moça que grudou em você numa manifestação ou sua amiga de infância. Sabe aquele seu colega que comprou a biografia do Malcolm X  antes de você, leu e decorou tudinho, depois fica postando incansavelmente sobre o Malcolm e os acontecimentos da época, fica te perguntando coisas só pra você dizer " eu não sei" e então esse amigo branco te aconselhar: Você precisa saber mais sobre seu povo ( ou qualquer coisa do tipo), e se você reclama ele logo foge e diz: " ah mas fulano (outro amigo negro), não acha ruim ( logo, o problema é com você). Então, esse branco provavelmente é o branco de estimação de alguém, e cuidado esse tipo adora namorar pessoas negras, vivem tecendo elogios loucos pra poder namorar uma pessoa negra e então poder dizer " mas minha namorada é negra..."

Estas pessoas conhecem nossas músicas, nossas danças, nosso jeito de fazer as coisas, os penteados, as roupas e é comum dizerem que "queriam ser negras". Num primeiro momento pode ser bonito pensar: " Ah, que bonito! A fulana é branca, mas queria ser negra! O racismo finalmente esta diminuindo!". Cada dia que passa, a pessoa branca vai se informando, vai se enturmando e absorvendo tudo o que pode da nossa cultura, até o dia em que a partir da vivência dela, a pessoa vai acreditar que somos todos iguais, e que é exagero nosso falar sobre apropriação cultural no século XXI, e então, aquele branco que até então parecia nos compreender, respeitar e amar, resolve se auto declarar negro, naquela mesa de bar e todo mundo gargalha. Aquela pessoa branca que ouviu tudo o que você disse sobre sofrer por não ter o cabelo liso, começa a dizer que sofre muito porque seu cabelo enrolado não é aceito, e justifica esse sofrimento dizendo possuir uma alma negra. Essa pessoa branca te dá o ombro e ambas choram acreditando sofrer do mesmo mal, o racismo. A partir destas vivências pessoais, o branco de estimação vai ganhando força ideológica apoiada por alguns negros e começa a falar por negros, e se questionada sobre o lugar de fala, usará seu mentor negro pra dizer " ah, uma amiga negra que me disse isso", e assim o branco de estimação vai te usando pra conquistar os espaços negros. Nós negros lutamos, nos estamos a frente das nossas lutas, mas quando conseguimos algum espaço, logo uma pessoa branca cola em nós e já solta que tem um pé na cozinha. Porque será que está tão legal ser preto? Nós não devemos achar graça quando uma pessoa branca, mesmo que seja branco de estimação se diz negra porque permitir que esse discurso de auto identificação  étnica seja reproduzido com o nosso aval, é ainda resquício do racismo que impede o enfrentamento completo desse problema. Quando uma pessoa branca, tem nosso aval pra ficar brincando de negritude só porque não esta mais achando tão legal assim ser branca, nós estamos criando um branco de estimação e alimentando uma cobra a conta gotas com a história dos nossos ancestrais. Entendam, um dos passos importantes para a igualdade racial, é os opressores reconhecerem os crimes que cometem, reconhecerem seus privilégios étnicos e não criar uma falsa simetria performando negritude. Não se esqueçam, tentam durante séculos nos matar, nós como resistência, acreditamos que se fossemos mais parecidos com eles o racismo diminuiria, pra isso nós alisamos nossos cabelos, abandonamos as religiões de matrizes africanas e apagamos muitas coisas importantes pra nós. Nós fomos de coração aberto tentar entender o mundo deles, mesmo que isso custasse nossos cabelos queimados e nossa auto estima ferida. Eles riram de nós, disseram que nunca seriamos brancos, e continuaram nos tratando mal. Essa assimilação não foi saudável nem pra nós e nem pra eles. As diferenças são saudáveis e nós (todos nós) precisamos aprender a lidar com ela e não tentar nos tornar o outro para respeita-lo por completo. Por isso queridas, não criem brancos de estimação.


* O pessoal é politico, o que isso quer dizer? Clique e leia.
**Continuação do texto:  Nosso Juri é racional e não falha
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quarta-feira, 12 de novembro de 2014

O Pessoal é politico: O que as feministas querem dizer quando usam esta frase?


sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Dia da Visibilidade Lésbica


quarta-feira, 30 de julho de 2014

Eu, a janela e o bonde





Há alguns anos atrás, durante a minha adolescência, a internet contribuiu muito no meu processo de aprendizado. As comunidades do Orkut acabaram por preencher uma lacuna que a escola e a educação formal não tiveram interesse em ocupar. Eram diversos assuntos abordados que iam desda constatação óbvia da falta de Negras/Negros no BBB até a falha na representatividade política da/do Negra/ Negro. Mas assunto algum rendia mais do que relacionamentos inter-raciais. Era ( quase) um tópico por semana. Cada um rendendo dezenas de postagens. O Orkut, como qualquer outra rede social, também era um ambiente cheio de gente mal-intencionada. Os perfis falsos eram criados com certa facilidade e rapidamente invadiam os grupos, atrapalhavam discussões e causavam constrangimento.

Durante o mesmo período comecei a frequentar espaços físicos do Movimento Negro. Durante o grupo de estudos passava a maior parte do tempo calada. Ficava intimidada com o nível de conhecimento dos companheiros e sempre achei prudente falar pouco quando se tem muita gente em volta. Apesar do Facebook apresentar-se como ferramenta social sucessora do Orkut, acredito que as duas carregam conceitos bem distintos de interação. O Orkut foi criado com a intenção de manter contato com amigos/parentes que estavam distantes e as comunidades serviam mais como um fórum para trocas de informações e, com sorte, fazer algumas amizades. Mais do que recuperar vínculos com pessoas que moram em lugares distantes, o Facebook é uma ferramenta usada para projetar um ideal da pessoa. E é óbvio que a busca excessiva por um certo tipo de exposição também é introjetada nos espaços de militância. Eu acho que esse é um assunto que merece bem mais atenção do que pretendo dar nesse texto, mas precisava ser citado para contextualizar o momento presente e a maneira atual de lidar com o outro na internet. 

Para entender os desdobramentos da padronização comportamental e como ela interfere na dinâmica do negro em espaços de militância é preciso entender a/o Negra/Negro e a construção de sua emocionalidade. Em seu estudo sobre a classe média negra em ascensão, Neusa Santos Souza mostra que por mais que a/o Negra/Negro, de maneira forçada, mimetize o comportamento do branco, com o intuito de conquistar o status de branquitude, o faz em vão. Entender que existe uma classe média negra afetada por essa emocionalidade distorcida não é, obviamente, negar Negritude ou entender que essa classe é a classe média com representatividade política e midiática. Entender isso é estar ciente que o sistema é articulado para legitimar a exclusão sistemática do negro usando do artifício da exceção. 


Não é conflitante entender que, numa sociedade racista, exista uma parcela da população preterida racialmente que detêm certo poderio financeiro. Somente há conflito quando existe um concepção superficial de Negritude. Quem tem vivência no Movimento Negro( especialmente em espaços físicos), sabe que existem divergências sobre certas pautas e urgências e que essas não anulam em hipótese alguma( como poderiam?) a identidade da/ do Negra/Negro e seu processo estrutural de existência. 


Há, no entanto, a necessidade de saber que durante o processo de articulação política dos movimentos sociais que visam reivindicar o espaço político da/do Negra/Negro, algumas demandas são preteridas e é preciso compreender quais fatores organizam essas escolhas. Autocrítica na construção de Movimentos Negros é fundamental para a desarticulação de uma sociedade racista. Durante o processo de construção de espaços próprios para discutir a condição da/do Negra/Negro, é essencial não ignorar a parcela da população negra mais afetada. A parcela que, por motivos que bem conhecemos, é repelida de maneira extremamente violenta desses espaços de construção. Muitas vezes, inclusive, por nós mesmos.


Nathali Ignez
23 anos, Carioca e se tudo der certo, futura ex-antropóloga

O FEMINISMO É UM SÓ?


sexta-feira, 25 de julho de 2014

Hoje é dia de feminismo preto, e quem se importa?



Há dois anos escrevi um texto para o blogueiras feministas sobre o dia das mulheres negras, latino americanas e caribenhas e nomeei o texto de " 25 de julho, o dia das outras mulheres". Esse texto foi escrito meio que as pressas, e quando me foi dado o tema, acreditei que deveria logo falar sobre racismo porque era o que mais me incomodava naquele momento.  Pouco tempo depois de escrever esse texto eu me afastei completamente das atividades tanto feministas quanto do movimento negro e fiquei só de olho no desenrolar das coisas. Hoje, dois anos depois e recém de volta a militância ativa, percebo um outro cenário. Hoje o feminismo negro esta melhor organizado, existe alguma representatividade e existem muitos textos feministas por um viés negro sendo upados todos os dias na internet. Há muitas coletivas que entenderam que é preciso abrir espaço para as pretas e esta rolando um debate bem bacana. 

Em dois anos percebo muitos avanços, acho que o principal avanço é o surgimento e crescimento do blogueiras negras, que publica textos com frequência e textos que dialogam bem com a maioria das pretas, acalentando muitos corações que estavam abandonados sem referencia. Eu apoio e acho muito bom que mulheres se organizem e escrevam, nesse ponto todo avanço é positivo. Mas além de avanços positivos, houveram avanços negativos também.  

O racismo continua presente em todos os espaços e agora com novas roupagens. As feministas brancas perceberam que discutir racismo é importante para a pratica feminista, mas também descobriram que levantar o assunto de forma desonesta desvia o foco de assuntos importantes, e divide mulheres. Redescobriram um truque racista e machista famoso mas que estava esquecido: Culpabilizar mulheres e incumbir as mulheres pretas a missão de salvar o mundo. Caso a gente se recuse, seremos lembradas de tudo o que passamos com o racismo e toda a dor que a sociedade nos causa por sermos pretas. dessa forma suja, estão colonizando os espaços criados e mantidos por pretas. Racismo velho, antigo e que infelizmente seduz por causa da velha ideia de aceitação, quase um slogan " Olha só,  são pretas mas nos aceitaram". Infelizmente o assunto "mulheres negras" e racismo ainda é usado como bucha de canhão para dividir mulheres. Infelizmente, cada vez mais cresce entre feministas o fetiche sobre negritude. A loucura social sobre " o que é ser negra", e o impedimento social de negar a negritude de alguém, como se fosse um crime dizer que uma pessoa não é negra, quando ela não é. Infelizmente nos círculos feministas maiores a negritude esta se tornando uma energia, um sentimento, uma ideia que pode ser apropriada por quase qualquer um, e muitas pretas na ânsia de serem aceitas, corroboram com esse novo projeto de negritude, mesmo sem entende-lo direito porque no minuto seguinte que aplaudem uma pessoa branca se afirmando negra, se entristecem com uma outra pessoa branca usando um turbante como coroa, por exemplo. A impressão que tenho é que se a pessoa branca, que se diz negra for uma pessoa amiga, pode, mas se for uma pessoa desconhecida é desonestidade. Eu estou tentando entender esses mecanismos, mas não esta fácil, eu sou de um mundo onde ser negra é ter a pele escura ( em vários tons), e outras características físicas que dizem que você não é branco, características que isoladas não representam muito, características que conversam com afrodescendência, mas aí o papo é outro.

Enfim, em dois anos observo muitas mudanças, avanços significativos e retrocessos absurdos, mas eu acredito que os avanços são absurdamente maiores e mais importantes do que os retrocessos porque os avanços alcançam muito mais mulheres e acolhem estas que estavam representativamente abandonadas. Percebo que as mulheres comuns, que não querem likes na internet e nem serem aceitas por grupos virtuais rejeitas essas teorias malucas sobre negritude, podem até ler, podem até eventualmente curtir, mas sabem que na vida real ser preta é ser preta, e não uma ideia fetichista, seja ela antiga ou moderna.  A maior parte dos textos que acompanho nos blogs são de teorias feministas que eu não concordo tanto, mas eu fico muito feliz em ver pretas que antes tinham a vida bem distante do feminismo, compartilhando textos escritos e publicados por mulheres negras. Estas mulheres leem estes textos e se sentem bem com eles, de alguma maneira estes textos tem facilitado a conversa sobre feminismo e tem ajudado muitas mulheres a reconhecerem o machismo e racismo do dia a dia, por isso é bom que continuem a serem escritos e devemos apoiar ou no mínimo não repudiar( sobre os textos que discordamos). Foram textos escritos por pretas que me aproximaram do feminismo, e só assim eu me interessei pelas teorias e fui estudar pra saber onde me encaixo. Fico feliz que muitas outras pretas estejam se aproximando do mesmo jeito e que de alguma maneira eu possa ajudar, mesmo com meus textos ácidos. Hoje, 25 de Julho: Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha, um dia de celebrações mas principalmente um dia de reflexão porque apesar dos avanços, ainda somos " as outras mulheres", façam um balanço, visitem as páginas feministas e observem: Quem esta falando sobre este dia? Qual a reflexão feita nestas páginas? porque dizer que nós somos lindas não precisa, nós já sabemos. 


Pretas sim, feministas também, vamos juntas em frente na luta antirracista!








segunda-feira, 21 de julho de 2014

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segunda-feira, 7 de julho de 2014

As Fêmeas, o feminismo e o racismo estratégico